Leitura
da Autobiografia de Santa Teresa do Menino Jesus, virgem
(Séc.XIX)
No coração da Igreja serei o
amor
Meus imensos desejos me eram um
autêntico martírio. Fui, então, às cartas de São Paulo a ver
se encontrava uma resposta.
Meus olhos caíram por acaso nos capítulos doze e treze da
Primeira Carta aos Coríntios.
No primeiro destes, li que todos não podem ser ao mesmo tempo
apóstolos, profetas, doutores,
e que a Igreja consta de vários membros; os olhos não podem ser
mãos ao mesmo tempo. Resposta
clara, sem dúvida, mas não capaz de satisfazer meu desejo e
dar-me a paz.
Perseverei na leitura sem
desanimar e encontrei esta frase sublime: Aspirai
aos melhores
carismas. E vos indico um
caminho ainda mais excelente (1Cor
12,31). O Apóstolo esclarece
que os melhores carismas nada
são sem a caridade, e esta caridade é o caminho mais excelente
que leva com segurança a Deus.
Achara enfim o repouso.
Ao considerar o Corpo místico
da Igreja, não me encontrara em nenhum dos membros
enumerados por São Paulo, mas,
ao contrário, desejava ver-me em todos eles. A caridade deu-
me o eixo de minha vocação.
Compreendi que a Igreja tem um corpo formado de vários
membros e neste corpo não pode
faltar o membro necessário e o mais nobre: entendi que a
Igreja tem um coração e este
coração está inflamado de amor. Compreendi que os membros da
Igreja são impelidos a agir por
um único amor, de forma que, extinto este, os apóstolos não
mais anunciariam o Evangelho,
os mártires não mais derramariam o sangue. Percebi e
reconheci que o amor encerra em
si todas as vocações, que o amor é tudo, abraça todos os
tempos e lugares, numa palavra,
o amor é eterno.
Então, delirante de alegria,
exclamei: Ó Jesus, meu amor, encontrei afinal minha vocação:
minha vocação é o amor. Sim,
encontrei o meu lugar na Igreja, tu me deste este lugar, meu
Deus. No coração da Igreja,
minha mãe, eu serei o amor e desse modo serei tudo, e meu desejo
se realizará.”
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