“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos." (Antoine de Saint-Exupéry)
sábado, 13 de março de 2010
14 de março, Dia Nacional da Poesia.
Poesia não é só um texto que se divide em estrofes e versos. Poesia é uma forma de se expressar e transmitir sentimentos, emoções e pensamentos. O poema é a forma em que a poesia se expressa com a linguagem escrita. No poema, as palavras se combinam de uma forma especial:
"Muitas delas (as palavras) se combinam de tal forma que evidenciam terem sido selecionadas não só pelo seu significado, mas também pelo seu significante, com o intuito de sugerir formas, cores, odores, sons, criar imagens, etc. Isso é o que observamos quando lemos, vemos ou ouvimos, um poema. Além disso, das palavras emana uma espécie de melodia, um ritmo, decorrente da forma como o poema é composto." (CEREJA, 1995)
Se o poema é uma forma de poesia, podemos nos perguntar: e o que é poesia? O dicionário pode nos ajudar:
Poesia - arte de escrever em verso; composição poética; inspiração; o que despertar o sentimento do belo. (Dicionário Silveira Bueno)
Através dessa definição podemos perceber que o dia da poesia é um dia para nos envolvermos com a natureza, com os sentimentos e sensações do mundo ao nosso redor. E claro, um dia para conhecermos mais a poesia de nosso país que é elogiada no mundo inteiro.
O dia 14 de março foi escolhido em homenagem ao grande poeta Castro Alves, é o dia do nascimento do escritor baiano famoso pelos seus versos românticos como os de "Navio Negreiro".
Já o dia 21 de março foi proclamado pela UNESCO como o Dia Mundial da Poesia. A data escolhida é o início da primavera no hemisfério norte.
Leia mais sobre o dia da poesia em:
Fonte: http://www.sitedeliteratura.com/Litbras/diadapoesia.htm
Poemas de Carlos Drummond de Andrade
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica
e nenhuma força o resgata.
Confissão
Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde , ao voltar da festa.
Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.
Do que restou, como compor um homem
e tudo o que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, múrmurios
de riso, entrega, amor e piedade?
Não amei bastante sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro -vinha azul e doido-
que se esfacelou na asa do avião.
Amar
Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Infância
A Abgar Renault
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras.
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu...Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro...que fundo!
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
Carlos Drummond de Andrade
http://kplus.cosmo.com.br/materia.asp?co=311&rv=Cigarra
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