“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos." (Antoine de Saint-Exupéry)
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Páscoa todo dia
Uma coisa que me incomoda muito na páscoa é a ênfase dada pelos cristãos na crucificação de Jesus. E haja sangue, chicotada, choro, lamento, enterro simbólico, disputa para encontrar e capturar o Cristo, malhação do Pedr...quer dizer, do Judas, no sábado de Aleluia, e, ao final, a congestão habitual da noite do domingo onde chocolate, peixe e uva se encontram para uma batalha feroz. O melhor da semana santa e da páscoa acaba sendo mesmo o feriado prolongado. E, tá bom, a possibilidade de comer chocolate com menos culpa.
E tudo isto porque os cristãos subverteram o sentido da páscoa. E, ainda por cima, subverteram duas vezes. A primeira quando transformaram uma festa de libertação em um teatro onde acaba-se em séria dúvida se estão comemorando ou lamentando a morte de Jesus. A crucificação não é mais importante que a ressurreição. E a celebração, curiosamente, não é pela ressurreição e sim, pela morte do Cristo. Os cristãos parecem não ter entendido nada da razão pela qual Jesus entrou em Jerusalém justamente na páscoa. Não foi para ser morto e sim para ressuscitar e ascender aos céus. Há uma grande diferença sobre o que exatamente deveria ser evidenciado.
A segunda subversão ocorre justamente quando o Cristo é pouco lembrado durante a páscoa e em seu lugar, entra o nosso querido amigo coelho. O pobre animal nada tem haver com esta história pois, sendo mamífero. sequer põe os tais ovos. E não se trata de demonizar a lebre. A questão é justamente Jesus ser lembrado pela sua morte quando deveria ser lembrado pela sua vida e. ainda assim, ser ofuscado por um símbolo pagão de fertilidade. Vida é fertilidade. E Jesus viveu, sobreviveu à sua própria morte. Mas a estrela da páscoa, se o assunto é alegria, é o coelho. Coelho que, aliás, segundo alguns religiosos, simboliza o crescimento da igreja. Ah, tá...E para o Cristo, pelo jeito, soubrou a cruz.
Jesus é esquecido nas outras 50 semanas "não-santas", já que, espera-se, o Cristo seja lembrado ao menos durante a semana do Natal. Seremos nós cristãos de páscoa e natal? De coelho e papai noel? Porque páscoa mesmo, no sentido original da comemoração, que é a "passagem", libertação, do homem em Deus, é todo dia. Tem que ser todo dia. Todo dia santo de toda semana santa. Páscoa é todo dia. Assim Jesus nos ensinou. Assim é a vontade de Deus.
Fonte: http://mateus23.blogspot.com
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