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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Um cartaz do tamanho do céu


Lembra-te, ó Homem, de que 30 de julho é o Dia Nacional do Cartaz. Com certa razão, disse um amigo meu: “Tem dia para tudo. Entre muitos e muitos outros, tem o Dia do Tintureiro (3 de agosto), o Dia das Devoluções (31 de dezembro), o Dia do Perdão (18 de setembro), o Dia do Trote e da Mentira (1o. de abril), o Dia do Protesto (14 de agosto), o Dia da Sogra (28 de abril), o Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio (16 de setembro), o Dia do Orquidófilo (22 de junho), o Dia do Silêncio (7 de maio), o Dia do Frevo (14 de setembro), o Dia Nacional do Choro (23 de abril), o Dia do Samba (2 de dezembro), o Dia Nacional dos Vereadores (1o. de outubro), o Dia do Prefeito (3 de outubro), o Dia do Palhaço (10 de dezembro), o Dia do Vizinho (23 de dezembro), o Dia Internacional da Pizza (10 de julho), o Dia do Trigo (10 de novembro), o Dia do Cacau (26 de março), o Dia do Café (24 de maio) e o Dia da Banana (22 de setembro). Será que tem o Dia do Abacaxi e o do Pepino?”.Que importa? Para quem está feliz, qualquer dia é sempre um dia de festa. Ao contrário, para quem está enfezado, até os dias de carnaval são chatos e sem graça.

30 de julho é, no Brasil, o Dia Nacional do Cartaz. Que tal imaginarmos o céu como um enorme cartaz, que pudesse ser lido por todo o mundo, com a chance de escrevermos nele o que bem quiséssemos? O que tu escreverias?


Há quem, cansado com a violência das grandes cidades e muito irado, simplesmente escreveria: BASTA, palavra que, aliás, já se encontra em muitas janelas de casas e apartamentos, expressando a consternação e a impaciência de uma classe média, até há pouco tranqüila, mas que já começa a sentir falta de segurança e proteção.


Há quem, diante da estupidez da guerra, que acompanha a humanidade desde sempre, simplesmente escreveria: PAZ! QUEREMOS PAZ! Em verdade, sem paz, a humanidade está mais perto do inferno do que do céu.


Imagino que uma pessoa religiosa escreveria: DEUS É PAI, ou DEUS TE AMA. Se aceitamos que o mundo é uma grande casa, que bom seria se todos tivéssemos um mesmo Deus, que fosse pai e salvador de todos! A vida, então, dificilmente mergulharia no flagelo das guerras e da loucura dos megalomaníacos.


Um namorado, certamente, circundaria com um coração o nome de sua bem-amada. Uma criança, quem sabe, o nome de sua escola ou professora. Um doente, uma pequena oração pedindo a Deus a cura de seus males.


Quantos ofendidos escreveriam: EU TE PERDÔO, e quantos velhinhos: A VIDA É BELA! Um sábio se lembraria do título do livro da autora norte-americana, Barry Stevens, e escreveria: NÃO APRESSE O RIO. ELE CORRE SOZINHO.


E, tu, o que escreverias? Eu, como franciscano, escreveria: SOMOS TODOS IRMÃOS. Não somos outra coisa. Lembra-te de Jesus! Ele veio para alargar os limites geográficos, culturais e sociais do Povo Eleito, anunciando que já não haveria mais “gregos ou judeus, circuncisos ou incircuncisos, incultos, selvagens, escravos ou livres” (Cl 3,11), mas todos, a partir de seu evangelho e do amor de sua cruz, seriam simples e lindamente irmãos.


Ser amigo é uma escolha. Ser irmão é uma marca e um destino. O amigo é uma conquista do tempo. O irmão é um presente do céu. O amigo, quando nos ama de fato, nos chama de irmão. O irmão, quando é nosso amigo, diz simplesmente: Tu és meu irmão!


São Francisco de Assis não quis fundar uma Ordem ou uma Congregação de gente especial, mas apenas uma Fraternidade de irmãos. Revelou-se quão predestinado era e a importância de sua intuição, quando, com simplicidade, afirmou: “Deus me deu irmãos”. Na fraternidade, ninguém deveria chamar-se prior ou superior. Todos seriam somente irmãos.


Um dia, falando com um pobre, perguntei-lhe o que escreveria se o céu fosse um enorme cartaz, e ele me disse: “Escreveria simplesmente a palavra PÃO. UM PÃO, POR AMOR DE DEUS!”


Confesso-te que me comovi e fiquei a pensar, por um lado, nas mil padarias que existem nos bairros e nos shoppings de nossas cidades e, por outro, na fome de quem não tem uma moeda para comprar um mísero pão. Lembrei-me da sinistra estatística, segundo a qual existem, em nosso mundo, 850 milhões de pessoas que dormem, todas as noites, com o estômago roncando de fome por falta do que comer. Nosso mundo poderia alimentar 12 bilhões de pessoas e não alimenta nem a metade! E, isso, por insensibilidade!


Fiquei pensando nas outras mensagens, todas lindas e verdadeiras, todas dignas de serem escritas num cartaz do tamanho do céu. E me perguntei: Para quem tem fome, o que significa “Deus é Pai” e “todos somos irmãos”?


Assomou-me diante dos olhos o Juízo Final, no qual Jesus se identificará com os pobres a quem damos ou não comida, com os nus a quem damos ou não roupas, com os miseráveis a quem, na caridade, acudimos ou não. E fiquei com vontade de diminuir todas as outras escritas, dando destaque apenas ao pedido do pobre por pão, por um pão, por amor de Deus.


Não te faças insensível, ó Homem, diante da miséria de tantos irmãos! Escuta seu clamor e grava esta humilde advertência: quando te encontrares em tua igreja e souberes que teu irmão, lá fora, está com fome, deixa tua oferta junto ao altar e vai primeiro saciar-lhe a fome. Depois, volta e oferece a Deus teu coração, que já o deste a quem, como tu, é filho do mesmo Pai que está para além do grande cartaz que todos pintamos no céu.


Como disse, lindamente, a Irmã Emmanuelle em seu livro A Riqueza da Pobreza: “Possamos todos... avançar de mãos dadas, nas estradas da fraternidade. Ela é o caminho que cumula o coração do homem. Ela é o caminho que cumula o coração de Deus. Ela é exultação”.

Frei Neylor J. Tonin
Irmão menor e pecador
Fonte: http://www.franciscanos.org.br/carisma/freineylor/agosto_artigo.php

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