Boletim Outubro 2010
"Quanto a mim, quero declarar publicamente que devo à oração do Rosário o fato de não ter naufragado, mas conservado a fé, nas tempestades que assaltaram e abalaram inclusive a minha vida sacerdotal", Padre Werenfried
As crianças ficavam felizes em visitá-lo. Com o tempo, ele foi ficando cada vez mais silencioso. Não conseguia mais ouvir bem o que seus netinhos lhe contavam. No final, o avô olhava para eles com olhar ausente. O pequeno José não se incomodava com o seu silêncio. Quando o avô faleceu, deixaram que José se despedisse dele, com o caixão ainda aberto. O menino acariciou delicadamente as mãos e a fronte do avô e, decididamente, disse a seus pais: "Eu vou escrever um livro sobre o meu avô". Ele cumpriu a promessa em nove linhas cheias de perguntas: "O céu é bonito? Sinto muito a sua falta, vovô. Lá você encontrou outras pessoas? Para você está sendo muito difícil não ver mais a vovó? Você já se encontrou com Jesus, ou com Nossa Senhora, ou com são José?" Com a maior naturalidade ele ficava unindo o céu e a terra. Com toda razão Jesus tinha advertido: "Se não vos tornardes como as crianças ..."
Essa familiaridade em acolher a terra e o Céu numa mesma casa, na casa do coração, é o próprio conteúdo do Evangelho. O atual enfraquecimento do cristianismo se origina no alheamento de Deus. A relação pessoal desaparece. O desvanecimento de seu rosto e de seu olhar íntimo que nos envolve de ternura infinita faz sangrar a nossa fé. Para muitas pessoas, Deus, Maria e os santos se transformaram apenas em ideias, nomes vazios, sem vida. Bento XVI associou essa "enfermidade" ao deísmo. Ele constata que esse deísmo "praticamente se impôs na consciência geral. Assim resulta inconcebível um Deus que se preocupa por cada pessoa humana, e muito menos, que possa atuar no mundo". Essa fé anêmica nada mais é do que uma moral já sem alma, incapaz de conquistar quem quer que seja. É esse o drama que está por trás da queda nas estatísticas da Igreja Católica. Por isso, é de um significado decisivo que leigos e sacerdotes recobrem o vínculo do amor pessoal a Jesus e entrem num diálogo intenso “de tu a tu” com o Deus vivo. Todo o resto virá por consequência. A Igreja alarga suas fronteiras lá onde “ser católico” significa estar enamorado do Filho de Deus, no Gólgota e na manhã de Páscoa.
Vocês, todos nós da Ajuda à Igreja que Sofre sabemos: o amor a Cristo é uma questão de vida ou morte. Era assim que vivia Teresa de Calcutá, cujo centésimo aniversário de nascimento acabamos de celebrar. Um dia em Roma, à tarde, tive ocasião de apertar suas mãos. Percebi que eram ásperas, enrugadas, como as mãos de um operário. Quantas crianças e quantos moribundos foram acariciados e abençoados por essas mãos. Quantas contas do Rosário escorreram por esses mesmos dedos! Para ela, o Senhor era um "tu" vivo, pulsante nos fracos e miseráveis. Bem-aventurada Teresa, abençoa-nos!
Por Padre Evaristo Debiasi
Fonte: aisbrasil.org.br/
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