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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Versos na areia

Quando se fala em Anchieta, uma imagem vem à cabeça: do jesuíta escrevendo versos na areia em homenagem à Virgem Maria. Mais que um poema, um pacto de fé.


Entre os tamoios. Assim que Mem de Sá voltou para a Bahia, os franceses retomaram sua posição no Rio de Janeiro e passaram a instigar os tamoios contra os portugueses. Para evitar a guerra, Anchieta e o padre Manuel de Nóbrega foram a Iperoig, atual Ubatuba (litoral norte de São Paulo), a fim de negociar a paz com os chefes indígenas. O acordo demoraria meses e exigiria a volta de Nóbrega a São Vicente, ficando Anchieta como refém. Sozinho, com dois protetores indígenas, em meio à hostilidade crescente, Anchieta teria feito uma promessa à Virgem. Desse pacto de fé, nasceu um poema em latim, louvando a mãe de Deus. Sem papel e tinta, utilizando a areia da praia para compor e metrificar, Anchieta escreveu 5.785 versos e decorou-os um a um. Dessa experiência, surgiu uma das mais belas imagens da iconografia brasileira: Anchieta, sozinho, escrevendo nas areias da praia com um galho.

Da areia para o papel. Após sete meses com os tamoios, a paz foi obtida com algumas tribos e Anchieta pôde retornar a São Vicente. Ali, passou para o papel o poema que havia composto na areia. De Beata Virgine Dei Mater Maria, ouPoema à Virgem, circulou em cópias manuscritas por muitos lugares, antes de ser publicado, em 1650, em Portugal. Nos versos, Anchieta demonstra todo o seu misticismo mariano e revela ser um lírico singular: divino e humano, sereno e extasiado, íntimo e expansivo. O poema é uma espécie de meditação e diálogo que mantém com a Virgem Maria para chegar a seu filho Jesus. O conteúdo pode ser agrupado em cinco temas: a infância de Nossa Senhora, a encarnação do verbo, a manifestação do Cristo por Maria, a infância de Jesus com a Mãe e Paixão e Glória de Jesus e de Maria. Seu misticismo exaltado em sua aspiração máxima – dar a vida por amor – transparece nos seguintes versos do poema:


Manda que, por Jesus, por seu nome divino,
derramando meu sangue, encerre meu destino!
Pois quem, por me remir, sofreu morte inclemente,
derramando seu sangue em liberal torrente,
sofrendo eu o martírio, e atroz morte curtindo,
por servo me conheça, una em amor infindo!...



Duas edições manuscritas da obra ainda existem, uma delas próximo à cidade natal de Anchieta. No Brasil, o poema foi considerado monumento pelo Arquivo Nacional, que o escolheu como uma das primeiras obras editadas.

Fonte: http://www.klickeducacao.com.br/materia/21/display/0,5912,POR-21-100-1314-3792,00.html

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